quinta-feira, 26 de novembro de 2009

solares


Sem volta nem vinda
A retina ferida, escurecida
Num branco alucinado por cores
Pesando um clarão pela janela
Calor emanando de cima abaixo,
Na parede sala
Um objeto em forma de peixe,
Poros em nascentes de mar salgado
A letargia antecedendo a orgia
Aliviando o tédio
Atravessando como louco
O que importa, o porto.
Aquele que cala,
Aquecendo a alma, o que vive lá dentro
Dias solares como esse que passou a pouco
Quero te-los em meu corpo.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Me calo nos dedos

Essa dor aqui doi em quaquer parte,
atravessa a casa, vasculha a alma e não cala.
É o vento, o tempo, um contratempo.
Não sei qual é, não sei o que há, porém é real.
Vejo e nada enxergo, sou o um avesso sem verso.
Um albatroz, um trem bala, uma vertigem...

Esconde-esconde, brincadeirinha de criança.
Queria escrever na mesma intesidade com que falo e penso,
quero pensar nos dedos e colocar palavras, verbos, acentos graves, condicionadores e geladeiras. A vida é um carnaval sem fim!
Me fantasio de eu pra sobreviver, catar migalhas e receber trocados.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

episódio

Um solilóquio qualquer no meio da tarde, sem compromissos, razões, pretensões ou saudades.
Um marco sem sentido num dia nublado, como se fizesse vermelho em pleno oceano.
Enlaço, te laço e me lanço no mar para acalentar minha febre.
Faz fevereiro aqui dentro enquanto é junho.
Contradições sem compromisso.
Vertigem na beira da estrada, pó, poeira e vento.
Um canavial repleto de pessoas em serviço, hoje eu vi.
Hoje eu afugentei o medo e guardei para viagem coragem, cordas e canivetes.
Troco, para ter lucro, palavras por silêncio.
Velo o corpo para revelar espírito.
Vago sem nexo e, por enquanto, sem brio.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

para refrescar o amor

Na soma dos nossos dias, muitas coisas têm passado batido. O dia-a-dia carregado de suas mesmices cotidianas nivelam por baixo os sentimentos e um beijo seu, um afago meu passam batido.
Na soma dos “eu te amo” que trocamos, vai ficando a marca de um lugar comum. O que precisamos dizer realmente se esvai na preocupação com a roupa pra lavar, as contas para pagar.
O amor se desbota e a gente esquece, de repente, de dar uma outra demão, de colocar uma questão. E, de repente, a gente esquece o quão importante um é para o outro.
Para variar, rever as palavras, limpar o sentido, compor um novo verso, eu lhe escrevo tudo isso apenas para confirmar o quanto novo e belo é a velhice do clichê de nos amarmos.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

disciplina


Loucura esse exercício de concentração. A disciplina é uma mulher traiçoeira, precisamos dela como precisamos de sexo só que com a vontade menos intensa!
Depois do gozo, da plena organização, você deixa de lado, finge que não sente falta e quando dá por si, tudo na sua vida está desandado. A danada vadia da disciplina foi-se embora pra viver com outro homem. Daí, com você, fica assim...a carta não foi enviada, a dissertação atrasou a data, o ipva não foi pago e a montanha de louça cresce na pia.
E no fim de noite, no início do ano, cheios de álcool e esperanças a gente se reencontra e eu faço mil promessas a ela. Deixaria de vez o cigarro, escreveria um texto por dia no blog e só compraria um livro novo quando terminasse de ler o anterior.
Não dá, não deu... Vêm as desculpas, os porém e quando você pensa que não, ela abandonou a sua casa. Daí vai tudo de novo: o re-entendimento, a reconciliação, as promessas.
Essa minha relação com a disciplina é idílica!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

quarta-feira de cinzas no país

É estranho demais, esparramado pelo chão, louco, alucinado, em meio à dietas, sons, passados rondando. Oculto histórias para revelar outras, descontos no supermercado, ônibus e metrô lotados. Meu corpo, meu coração, minha carcaça e minha culpa. A culpa, o corpo e a busca pela calma, pelo apaziguamento dos sentidos. Viajo para ter coragem. Meio caminho andado daqui ao quarto.
É estranho demais para sair a rua, li, reli e troquei os sentidos, onde escrevi casa agora lê-se saudade, apaguei palavras como morte, amor e madrugada.

Versão desatualizada de mim, uma criação pouco elucidativa em plena quarta-feira de cinzas. Que louca é a maré dos meus sentimentos.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Na falta da coisa há palavra Não terei faróis para dirigir a noite...




Escrevo para fugir da perdição de onde estou.
Escrevo ancoras, estacas de madeira, freios de mão, trilhos para uma locomotiva.
Escreva lâmpadas para os pés e faróis para os olhos.
Escrevo represas que suportam a fuga de eu nos meus poros.
Há hemorragias em mim, escrevo para estanca-las.
Escrevo molduras para os auto-retratos deformados que pintei.
Escrevo moldes, embalagens herméticas para o meu eu.
Sarcófagos, caixões, jazigos, camas, redes que me suportam.
Ando dilatando, pingando. Gelo dissolvendo. Vela que se derrete toda.
Meu eu contamina as ruas por onde passo.
Vou deixando migalhas pelo caminho.
Derramando a constituição do meu ser.
Vou me perdendo pelos espaços do mundo.
Escrevo na tentativa de somar tudo isso.
Escorar os galhos que vão crescendo desordenadamente.
Escrevo podas em árvores, amarrações em metal para as trepadeiras.
Escrevo regras, filosofias de vida, pílulas, terapias de suporte de ego.
Escrevo amores declarados.
Escrevo compreensões, teorias, reflexões, tratados, dicionários temáticos, epopéias.
Escrevo as batalhas privadas pelas conquistas dos meus territórios.
Escrevo mapas das extensões geográficas e das condições climáticas do meu corpo.
Escrevo minhas fugas, minhas viagens astrais.
Escrevo até meus porres, minhas glutonarias e minha sede sedenta de amor.
Escrevo o corpo dos meus amantes.
Escrevo o mundo dentro de mim para suportar a pressão do mundo lá fora e dos mundos dos outros eus que absorvo pelo contato do toque,do olhar e da palavra que...Escrevo.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

decisões de ano novo

Pensei muitas coisas para esse fim de noite... planejei, organizei as idéias e apurei alguns argumentos, mas, como sempre, decidi me guiar pelo papel em branco e pelo som das teclas do computador reverberando pela casa afora.
Não foi uma decisão propriamente minha, foi coisa acima, aquém, além de mim. No jogo da escrita há muito mais sorte que sagacidade do jogador. Estou aprendendo, aprendendo sempre, e mais do que nunca aprendendo a guardar meus projetos, fortalece-los e fazer com que aconteçam pelo meu esforço sem esperar um estalo, ou a vontade de outro para que as coisas aconteçam.
Sem querer andei bebendo daquilo que critico tanto: a passividade diante do mundo, a postura do não sei! Vou ver! Quem sabe!
Preciso agir, ir pra frente de batalha sabendo que vencer, lutar pelos meus sonhos vai ser tarefa minha, exclusiva.
Vamos enfrente, jogar com palavras, registrar porque se ficar o bicho come e se correr o bicho pega!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Criar uma rotina, falar palavrões, beber como um alucinado, gosto mesmo é de me embriagar sozinho, uma boa música, talvez um cigarro. Sou dessas, sim! Sou das que acendem velas, perfumam a casa, consomem produtos de beleza, cremes, cosméticos, me preocupo com a roupa que uso no trabalho.
Faço planos para o verão e tenho sempre uma esperança para confortar os invernos, ouço músicas antigas para reacender histórias, guardo no coração saudades de coisas que já nem sei. Para passar o tempo mergulho em histórias e pessoas, gosto muito das vidas alheias e acho quase sempre que os outros são mais felizes que eu.
Leio livros, vejo filmes, e mais uma vez ouço músicas. Gostos de casas, ambientes, varandas e jardins. Tenho um apartamento pequeno onde guardo tudo o que tenho, tenho um amor, livros, objetos eletrônicos que me acompanham quando o tédio ou a solidão batem a porta.
Por precaução tenho plantas, amigos e roupas de cama. Adoro passar pano no chão, lavar o banheiro, lavar e passar roupa. Cheiro de casa limpa é tão bom, casas quentes são melhores, eu sei!
Casas quentes são casas com crianças e animais, cada um sendo a seu tempo o que é. Cumprindo fielmente seu papel de apenas ser. Crianças e animais não precisam de scrits ou histórias de vida para se fazerem presentes. A criança e o animal são e se bastam a penas por ser.
Homem adulto por sua vez precisa se fazer em histórias, narrações de fatos. Adultos são as viagens que fizeram, os amores colhidos, os fracassos e as realizações profissionais. Criança não precisa realizar, apenas em ser ela já é e assim já cumpre sua função.