Hoje acordei Clarícimo
Acordei com um gosto estranho na boca. Eu não sei
descreve-lo.
Um gosto de tempo, um gosto de um gosto.
Quero me lembrar, vou me esforçar para contá-lo.
Ele tem o cheiro do instante de agora,
O Já, o âmago do “É” de alguma coisa.
Gosto do instante que escapa aos olhos,
o ovo que se desfaz quando se diz “o ovo”.
O bico da pena.
Um ponto, um átimo de segundo.
Uma partícula subatômica.
O instante entre o agora de agora
e o outro agora de depois que
já é outro e sempre outro.
O inefável.
A cada movimento do pensamento,
a cada palavra dita eu vou tomando distância do que quero
ou tento dizer sobre o gosto.
A verdade mesmo é que a palavra em si é parte de um
movimento tirânico do qual não consigo escapar, que escapa ao gosto, por isso
não o descreve.
Tenho de submeter-me, devo aceitá-las, devo respeitá-las
para falar do gosto.
Tomo distância do gosto.
Como falar do que não é palavra?
Como dizer o que não
pode ser dito?
O que dá para ser dito desse gosto?
Como nomear o inominável?
Vou escovar os dentes, enxaguante bucal e poema.