domingo, 1 de fevereiro de 2009

Na falta da coisa há palavra Não terei faróis para dirigir a noite...




Escrevo para fugir da perdição de onde estou.
Escrevo ancoras, estacas de madeira, freios de mão, trilhos para uma locomotiva.
Escreva lâmpadas para os pés e faróis para os olhos.
Escrevo represas que suportam a fuga de eu nos meus poros.
Há hemorragias em mim, escrevo para estanca-las.
Escrevo molduras para os auto-retratos deformados que pintei.
Escrevo moldes, embalagens herméticas para o meu eu.
Sarcófagos, caixões, jazigos, camas, redes que me suportam.
Ando dilatando, pingando. Gelo dissolvendo. Vela que se derrete toda.
Meu eu contamina as ruas por onde passo.
Vou deixando migalhas pelo caminho.
Derramando a constituição do meu ser.
Vou me perdendo pelos espaços do mundo.
Escrevo na tentativa de somar tudo isso.
Escorar os galhos que vão crescendo desordenadamente.
Escrevo podas em árvores, amarrações em metal para as trepadeiras.
Escrevo regras, filosofias de vida, pílulas, terapias de suporte de ego.
Escrevo amores declarados.
Escrevo compreensões, teorias, reflexões, tratados, dicionários temáticos, epopéias.
Escrevo as batalhas privadas pelas conquistas dos meus territórios.
Escrevo mapas das extensões geográficas e das condições climáticas do meu corpo.
Escrevo minhas fugas, minhas viagens astrais.
Escrevo até meus porres, minhas glutonarias e minha sede sedenta de amor.
Escrevo o corpo dos meus amantes.
Escrevo o mundo dentro de mim para suportar a pressão do mundo lá fora e dos mundos dos outros eus que absorvo pelo contato do toque,do olhar e da palavra que...Escrevo.

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