terça-feira, 22 de novembro de 2011

Pequeno inventário das leis de transito em Campos



1) Lugar de capacete é... no cotovelo.
2) Ao mudar de faixa numa via deve-se dar seta, não luminosa, mas com o braço, acenando do lado de fora do carro.
3) Sinal vermelho deve-se... seguir buzinando freneticamente.
4) Quanto maior mais caro o veículo, maior a preferência em rotatórias e cruzamentos.
5) Ciclovia é para... pedestres, bicicletas seguem na via com carros, carroças e caminhões que desafiam as leis da física abarrotados de cana e/ou tijolos.
6) Passarela... o que é passarela???
7) Ao trafegar pela Av. Pelinca, deve-se reduzir a velocidade ao máximo para ver e ser visto.
8) Música no carro deve ser alta o suficiente para ensurdecer motoristas e passageiros.
9) Ao dirigir falando ao celular, o que é permitido, deve-se reduzir a velocidade, sem importar com os outros carros, afinal você paga impostos (para o Espirito Santo) e a via é sua!
10) Ao ser multado, recorra ao amigo do vizinho do primo do cunhado do político influente e resolva tudo sem gastos e pontos na carteira.
11) Faixa de Pedestres... o que é isso?
12) Aos pedestres: quando precisar atravessar uma via, corra... corra desesperadamente!
13) Pistas duplas destinam-se, uma a estacionar ônibus e expor carros a venda e a outra, sim, para trafegar.
14) Lembre-se sempre, no transito todos são... os donos da rua. Pare onde quiser, passe por onde quiser e se algo te incomodar grite “cabrunco!”

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Pelinca, um protótipo da Zona Sul


Em meio a tanto concreto, prédios de andares altos, apartamentos duplex e quitinetes, a Pelinca, para além de um feudo burguês, tem me lembrado a zona sul carioca. Por lá tenho visto muitas velhinhas, gays e farmácias. Aquelas senhoras que antes viviam em grandes e confortáveis casas trocaram seus lares. As mansões de outrora foram vendidas a preços gordos, com o saldo devidamente dividido entre herdeiros, e transformadas em centenas de moradas e lucros às construtoras. Hoje, as matriarcas sexagenárias têm, somado aos seus endereços, outros números e nomes de edifícios em italiano, francês ou inglês... quanto mais incomum o nome, o condomínio é mais chique e caro!

Pelas ruas do bairro, elas transitam com suas acompanhantes entre um banco e outro, uma farmácia e outra. Entre as calçadas, as galerias, os bares e restaurantes há, também uma massa de rapazes de cabelo espetado, calça ajustada ao corpo com seus blackberrys, strawberrys e apples sempre a mão.

Só não temos artistas caminhando pela orla, e muito menos uma orla! Um pouco distante do Atlântico, aqui em Campos forja-se um jeito de ser que, como no Rio de janeiro, inclui visitas constantes a academias, lojas de produtos naturais e mercados natureba. Ah, falta-nos lojas de sucos naturais que, modestamente aqui, restringem-se a sorvetes de yogurte e açaí.

Falta-nos, principalmnte uma revolução na cultura, um movimento de artistas e intelectuais que, como lá, produziu a Bossa Nova, a irreverência de um lifestily transgressor de um Cazuza. E é justamente o que espero da Pelinca, que nela vejamos emergir um movimento artísticos de vanguarda, para que sejamos, para além de um protótipo, um lugar de criação, transgressão e boemia... como, para além das belezas naturais, Copacabana, Ipanema e Leblon foram e são.

domingo, 2 de outubro de 2011

Uma nova colonização?


Sem dúvidas o assunto que não falta na roda de discussão no botequim, nas associações comerciais, nas altas cúpulas do governo e nas instituições de ensino da região de Campos é a construção do “super porto” no distrito Açu, aqui ao lado, em São João da Barra. Os impactos desse projeto são muitos e em diversas searas (econômica, demográfica, ambiental, etc.), assim como são muitas suas conseqüências positivas e negativas.

Como vemos nas ruas, nossa cidade está crescendo, há grandes empreendimentos imobiliários por todos os bairros. Ainda que outros fatores relacionados à conjuntura econômica do país estejam conjugados, os prédios que crescem na Pelinca refletem a expectativa pela inauguração do empreendimento da LLX.

No último mês, a empresa de Eike Batista lançou uma grande campanha publicitária (no rádio, na TV e em outdoors) alardeando o “grande avanço” que o Complexo do Açu trará para a região norte do Estado do Rio de Janeiro. O material de divulgação apresenta as obras no plano de fundo, o ator Luigi Baricelli falando em nome do Complexo, justificando seus benefícios, e a pequena são joanense Vitória.

O que eu gostaria de levantar, no espaço deste blog, é o caráter intertextual, ou seja, as semelhanças entre a imagem acima (que também vemos nos outdoors pela cidade) e imagem que está na memória coletiva daqueles que, minimamente, conhecem a História do mundo entre os séculos XVI e XVIII, quando os europeus colonizaram e impuseram sua visão de mundo ao resto do mundo.

Não estaria o ator representado a imagem do europeu, branco, alto, “inteligente” e bom e a pequena Vitória, o colonizado inocente, pacífico e disposto a acreditar no progresso exploratório como algo positivo? A História serve para não repetirmos os erros do passado!

Será excesso interpretativo da minha parte, ou você também concorda? Comente.

domingo, 1 de maio de 2011

"É a mãe"

Estaremos de volta com "É a mãe" no proximo sábado, Teatro do SESI - Campos.

Na vespera do dia das mães, uma boa alternativa para presenteá-las. Garantia de diversão para filhos e mães!
Acima a crítica do renomado Diretor Teatral Fernando Rossi, clique na imagem para ampliá-la e lê-la.
EM BREVE PUBLICAREI O HORÁRIO E O VALOR DOS INGRESSOS

NÃO PERCAM!


terça-feira, 26 de abril de 2011

transportando ventilador


Veio uma frente fria. O homem levando um ventilador na garupa da bicicleta, eu vi hoje na ciclovia e além disso uma mala no alto do guarda-roupas, uma viagem em latência. Somos hospedes num corpo que carrega a gente e vai levando tudo. O homem indo e eu mais ao fundo na minha obstetrícia dissecativa das coisas.

Uma racionalidade em frangalhos suportando um eu que deseja tudo, que quer, sem saber o que. Um cara indo sem saber pra onde, ou sou eu, sem saber seu destino, inventando argumentos. Sem saber em que lugar isso vai dar. Um enredo sem texto, clímax, catarse.

Mário galopa o alazão, sem fé, chão, desafio. Não assimilo mais nada. As coisas vão acontecendo ao ermo, sem eira nem beira. Uma situação alarmante comove a cidade, como um jogo de copa do mundo, é disso que me ocupo. Tudo está parado como se fizesse três horas da tarde. Uma paisagem lunar. Não me alcanço por nado, vou dissecando uma cebola com o pressentimento de que no fim tudo isso é um nada. Uma alcachofra e folhas e folhas que protegem a si mesmas e só.

A gravidade das coisas que pulsam: uma colher, um copo vazio. O fogão apagado, solenemente sem chamas. A árvore suspensa antes de ser lenha. O fogo escondido no carvão do churrasco, tudo aqui antecedendo, pressentido. A semente que premedita um vegetal, uma flor, um amor, um final que se descama em recomeço. Toda pele da extensão do meu corpo um dia será outra. Assim as histórias vão acontecendo, sobrepostas, antecedendo. Não quero o dom para predizer o futuro.

O homem com o ventilador é um predecessor do aconchego só isso eu sei e me basta. Com a palavra organizo os sentidos das coisas e o meu mundo ganha ordem.

Disponho o ventilador num quarto alugado, o homem terá filhos ou espera tê-los, não arrisco idade, religião, objeto de desejo. Só tenho um ventilador na garupa, uma cidade quente e o que é humanamente possível: a busca pela supressão dos horrores e o descanso.