domingo, 20 de junho de 2010

O sol e a cidade


Já não é meio-dia e, no céu pela vertiginosa inclinação do Sol, tem-se a inevitável denúncia de que o tempo passa...
Vê-se, no horizonte distante, a clarividência alaranjada nas nuvens, na extensão da planície e nas torres de concreto do centro da Cidade. Diariamente, nesse instante, todas as construções são degustadas pela língua quente do amante latino. Há o amor, o encontro acontece e somente as cortinas, já desbotadas da sala, testemunham o casal. Ele vem ao amanhecer, entretanto, partirá em breve e deixará a verde-cinza dama aquecida, porém, desolada com a irreversível escuridão noturna que em breve tomará o lugar da tarde.
Agora, no céu, as cores vesperais revelam sentidos a acusar, sem qualquer ressentimento, a despedida iminente. O crepúsculo faz da tarde ainda mais tarde e quase noite. Há uma batalha diária: tarde x noite, sem precedentes, comparável apenas à luta do despertar noite x manhã, no reinado da franca duquesa, madrugada. Anuncia-se a despedida. Ele é comprometido com a outra metade da Terra. A noite é fatídica.
Adentra-se a noite, velha e experiente viúva, consolando a jovem e desprotegida Cidade por escurecer-se com a partida inoportuna de seu amado incandescente. O idílio eterno recomeçará amanhã e a Cidade reencontrará o Sol. O astro não tardará, quando a madrugada se for. Agora, porém, já não há esperanças. Ele se vai e a metrópole tenta inutilmente contentar-se com o mercúrio das praças.
É noite.

Um comentário:

Balaio disse...

o senhor não se envergonha de nao me falar (justo a mim!!!! - aqui tem um bico, tremido, de choro, daqueles de travesti dublando) que tinha um blog, nao (interrogação)!!

Só fiquei sabendo por vausa do blog do Mr. Gayrrison...

Let it be...