Eu gosto mais do programa Mulheres Ricas que do BBB. Ambos os programas partem do nosso
ávido desejo por acompanhar a vida alheia e, para isso, tomam por modelo o gênero
televisivo reality show. O reality, acredito, nasceu na tentativa de adicionar pinceladas
de entretenimento ao documentário, politicamente engajado gênero cinematográfico.
No programa global, jovens
narcisistas, mulheres e homens, se expõem a qualquer custo e sem o menor resquício
de ética numa maratona em busca da fama. No Mulheres, o suposto dia-a-dia de
distintas senhoras que vivem no apertado topo da pirâmide social brasileira é
filmado, editado e exibido entremeado por depoimentos de cada uma delas, ora
sobre si, ora, com toques de intriga, sobre as demais participantes.
O que me chama atenção no semanal
da Band é o teor de humor acrescentado à fórmula que o alinha ao concorrente da
Globo e que lá é, forçosamente, apresentado em charges animadas. Pois bem,
penso que a comédia que emerge no Mulheres
Ricas esteja assentada na inquietante condição de exclusão feminina ainda no século XXI. A partir
do próprio título, pensar em uma mulher rica é tão estranho para a nossa lógica
machista que convertemos o estranhamento em piada.
Por isso, um Homens Ricos não passaria de um documentário de uma TV paga
qualquer. Já a atração no ar ganha ares de programa de humor, com direito a
bordões, personagens caricatos e audiência na tv aberta. Daí porque eu gosto do
programa, pelo humor. Não é por ver mulheres em situações ridículas, mas pela
confirmação de que a comédia nunca é inocente ou despretensiosa. Geralmente, ela
reflete, através do riso, obscuras camadas de preconceito, discriminação e desigualdade.
Esperamos o tempo em que as mulheres
ricas não se tornem, gratuitamente, motivo de piada.
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