terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A praia dos campistas



O mês de janeiro provoca uma certa histeria coletiva. É como se uma flauta mágica nos hipnotizasse e, como zumbis, fossemos teleguiados até o mar. Desconfio que o astro rei não seja o único responsável. A praia, mais que um espaço geográfico, pode ser observada enquanto um fenômeno antropológico que, se estudado a fundo, terá muito a dizer sobre a identidade das pessoas. Prova disso ocorre quando dizemos “Esta não é a minha praia!” para delimitarmos nosso objeto de desejo e outras coisas alinhadas a nossa constituição subjetiva, política e ideológica.

Na minha infância, em Porciúncula, deslocar-se até o mar era uma epopeia, cercada de expectativa, vivida uma vez ao ano por duas famílias que percorriam, num Chevette vermelho e somente nele, o trajeto entre o Noroeste Fluminense e a Região dos Lagos e ali passavam alguns dias. Uma infância feliz, pois salva da sina de não se ter ido à praia no mês de janeiro.Em Campos, mais que em Porciúncula, a desejada praia talvez seja instituição cívica e cultural. Se, aqui, o IBGE incluísse no Censo a pergunta “Qual praia você frequenta em janeiro?”, com os dados obtidos descobriríamos muito sobre quem são os campistas. 

Especulo que, no topo das respostas, quem sabe em percentuais iguais, teríamos: Farol, Santa Clara, Grussaí, Atafona, São João da Barra, Guarapari, outras em menores proporções na Região dos Lagos e ao sul do Espírito Santo e até a Lagoa de Cima que não é uma praia, mas ganha status de, nesta estatística. Com as pesquisas a partir dos números, ficariamos estarrecidos ao constatarmos que a condição econômica pouco importa quando o campista decide tomar uma praia para si. Há afinidades sutis, determinantes genéticos e implicações sociológicas que ultrapassam o quanto dinheiro se tem para ir e estar na praia que se quer para chamar de sua.

Enfim, acredito que a praia de um campista diz muito sobre quem ele é. Mesmo que ele vá à outras, há uma predileção quase inconsciente, como a por um time de futebol. Um frequentador do Farol ou de Guarapari pode ser reconhecido pelo modo de andar e se vestir, observado a milhas de distância. As idiossincrasias (modos de ser, costumes, valores e até crenças) de um campista determinam ou são determinadas pelo lugar onde ele passa o mês, ou alguns dias, de janeiro. Ainda não fui às ruas para comprovar minha tese, mas estou a um passo de sair por aí perguntado “Qual é a praia que te pariu?”.

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