sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Hoje acordei Clarícimo

Acordei com um gosto estranho na boca. Eu não sei descreve-lo.
Um gosto de tempo, um gosto de um gosto.

Quero me lembrar, vou me esforçar para contá-lo.
Ele tem o cheiro do instante de agora,
O Já, o âmago do “É” de alguma coisa.
Gosto do instante que escapa aos olhos,
o ovo que se desfaz quando se diz “o ovo”.
O bico da pena.
Um ponto, um átimo de segundo.
Uma partícula subatômica.
O instante entre o agora de agora
e o outro agora de depois que
já é outro e sempre outro.
O inefável.
A cada movimento do pensamento,
a cada palavra dita eu vou tomando distância do que quero
ou tento dizer sobre o gosto.

A verdade mesmo é que a palavra em si é parte de um movimento tirânico do qual não consigo escapar, que escapa ao gosto, por isso não o descreve.
Tenho de submeter-me, devo aceitá-las, devo respeitá-las para falar do gosto.
Tomo distância do gosto.

Como falar do que não é palavra?
 Como dizer o que não pode ser dito?
O que dá para ser dito desse gosto?

Como nomear o inominável?

Vou escovar os dentes, enxaguante bucal e poema.

2 comentários:

Unknown disse...

MUITO bom, Thiago! Adorei!

DESIRRE BRANDÃO - PROFESSORA DE LÍNGUA PORTUGUESA disse...

Que perfeito! Lendo, ouvi você dizendo esse poema! Amei de paixão!!!!